A ONU e a Arte da Dominação Global

Uma História de Paz, Poder e Pretextos

Estava eu aqui, observando as notícias sobre a mais recente "birra" de Trump com a ONU, quando uma pergunta incômoda começou a martelar minha mente: em que momento exatamente começamos a acreditar que uma organização internacional poderia realmente garantir a paz mundial?

É uma daquelas perguntas que parecem simples à primeira vista, mas quanto mais você pensa nela, mais complexa ela se torna. 

Como aquela vez que você se perguntou por que o sabão faz espuma, e acabou em um buraco de coelho sobre tensão superficial e química molecular.

Trump, nosso empresário-presidente favorito (será?), decidiu mais uma vez bater a porta da ONU. 

Dessa vez, foi o Conselho de Direitos Humanos que levou um "você está demitido" à la reality show. 

E para completar o pacote, cortou a mesada da UNRWA, aquela agência que cuida dos refugiados palestinos.

Mas antes de cairmos na tentação de ver isso como apenas mais um capítulo da novela "Trump contra o Mundo", vamos dar uns passos para trás. Tipo, uns 80 anos para trás.

A Liga das Nações: O Primeiro Ensaio do Fracasso

Imagina só: é 1920, o mundo acabou de sair da "Guerra para Acabar com Todas as Guerras" (spoiler alert: não funcionou), e alguém teve a brilhante ideia de criar um clube internacional onde todo mundo ia se sentar, conversar civilizadamente e resolver seus problemas sem precisar se matar.

Parece ótimo na teoria, não é?

O problema é que essa primeira tentativa - a Liga das Nações - tinha mais furos que um queijo suíço. 

E o maior deles? 

Os Estados Unidos, que tanto insistiram na sua criação, decidiram não participar. É tipo organizar uma festa e não aparecer nela. Meio constrangedor, não?

Mas por que isso importa agora? 

Porque a Liga das Nações foi como aquele primeiro relacionamento que deu errado - nos ensinou exatamente o que não fazer da próxima vez.

A ONU: Segunda Tentativa, Mesmos Problemas?

1945: o mundo está um caos (de novo). Milhões de mortos (de novo). E alguém diz: "Ei, que tal tentarmos aquela ideia da organização internacional” (de novo). 

Mas dessa vez vai dar certo, prometo!

E assim nasceu a ONU.

Mas aqui está a parte interessante que ninguém gosta de mencionar: os Estados Unidos, que não quiseram participar da Liga das Nações, de repente se tornaram os maiores entusiastas da ONU.

Por quê?

Bom, digamos que eles aprenderam uma lição valiosa: é melhor construir a casa do jeito que você quer do que reclamar da casa que os outros construíram.

O Plano Perfeito (para os EUA)

Pense na ONU como um clube exclusivo. Todo mundo pode entrar, mas algumas pessoas têm passe VIP permanente. São os famosos membros permanentes do Conselho de Segurança, com seu poder de veto.

É tipo aquela reunião de condomínio onde todo mundo pode falar, mas no final, o síndico faz o que quer.

E quem é o síndico nessa história? Adivinhou: os Estados Unidos.

O sistema foi meticulosamente desenhado para parecer democrático e inclusivo, enquanto garantia que nenhuma decisão importante pudesse ser tomada contra os interesses americanos. 

É como dar a ilusão de escolha para seu filho pequeno: "Você quer escovar os dentes agora ou daqui a 5 minutos?"

A Engenharia Financeira da Paz: Bretton Woods e o Plano Marshall

A verdadeira genialidade do plano americano se revelou em 1944, quando 44 nações se reuniram em Bretton Woods, New Hampshire. 

Ali, num hotel no meio das montanhas, longe dos olhos do mundo, os Estados Unidos desenharam a arquitetura financeira que dominaria o século XX.

O acordo parecia simples: o dólar seria a moeda de referência internacional, atrelado ao ouro. Todas as outras moedas seriam atreladas ao dólar. 

Na prática? Os EUA acabavam de ganhar o monopólio da impressora de dinheiro global.

Junto com esse "pequeno acordo", nasceram as "primas ricas" da ONU: o Banco Mundial e o FMI. 

A desculpa oficial era nobre: reconstruir a Europa devastada pela guerra. A realidade? Transformar empréstimos em controle geopolítico.

O Plano Marshall merece um capítulo à parte nessa história. 

Dezesseis países europeus receberam cerca de 13 bilhões de dólares entre 1948 e 1951 - algo em torno de 140 bilhões em valores atuais. Um ato de generosidade inédita na história, diziam os jornais.

Mas a generosidade americana vinha com uma lista de exigências maior que menu de restaurante japonês. 

Os países beneficiados precisavam abrir seus mercados, aceitar empresas americanas, adotar políticas econômicas específicas….

A ajuda humanitária rapidamente se transformou em cavalo de Troia para a dominação econômica.

O resultado? Uma Europa reconstruída, sim, mas também profundamente dependente do sistema financeiro americano. 

A Alemanha e o Japão, antigos inimigos, tornaram-se vitrines do "milagre capitalista" - desde que seguissem as regras do jogo americano.

A Globalização Não Tão Espontânea

A ONU, o FMI e o Banco Mundial formavam uma trindade perfeita para forçar a globalização numa velocidade que muitos países não estavam preparados para acompanhar. 

Enquanto muitas nações ainda preferiam cautela nas suas aberturas comerciais, o sistema criado não lhes dava escolha.

O dólar, agora moeda global, dava aos EUA um poder sem precedentes. Quando Nixon abandonou o padrão ouro em 1971, o castelo de cartas deveria ter desmoronado. 

Mas não desmoronou. Por quê? 

Porque o dólar já não precisava do ouro - tinha o poder militar americano como garantia.

A terceira revolução industrial acelerou ainda mais esse processo. Enquanto o mundo se maravilhava com computadores e internet, poucos percebiam que a infraestrutura dessa revolução tecnológica estava sendo construída segundo os interesses de Washington.

Os países que tentavam resistir a essa maré globalizante rapidamente descobriam que o mundo tinha se tornado um lugar muito solitário para quem não jogava segundo as regras americanas. 

A URSS que o diga…

A Pax Americana: Paz sob Condições

A ONU vendia a ideia de paz mundial, mas entregava a Pax Americana - paz sim, mas nos termos dos Estados Unidos.

Na prática, o multilateralismo da ONU funcionava como um monólogo americano ocasionalmente interrompido por aplausos educados. 

Washington ditava as regras, e o resto do mundo tinha a "liberdade" de concordar ou... concordar.

Trump e a Arte de Quebrar o Próprio Brinquedo

E isso nos traz de volta ao presente, onde Trump está essencialmente quebrando um brinquedo que os próprios Estados Unidos criaram.

A ironia é deliciosa, não?

Os EUA construíram um sistema internacional inteiro baseado em sua própria hegemonia, e agora parecem não querer mais brincar quando as regras que eles mesmos criaram começam a incomodar.

É como aquela criança que monta um jogo de tabuleiro, estabelece todas as regras, e quando começa a perder, vira a mesa e vai embora.

A UNRWA e o Peso da História

O caso da UNRWA é particularmente interessante nesse contexto. 

Uma agência criada para lidar com as consequências humanitárias da criação do Estado de Israel (projeto fortemente apoiado pelos EUA) agora se vê abandonada pelo mesmo país que ajudou a criar o problema que ela tenta resolver.

A situação beira o absurdo: primeiro criam o problema, depois abandonam a solução, e ainda reclamam que a solução não funciona.

O Futuro da "Ordem Internacional"

Então, o que podemos esperar daqui para frente?

A ordem internacional está claramente em transformação. O sistema criado após a Segunda Guerra Mundial, que serviu tão bem aos interesses americanos por décadas, parece estar chegando ao seu limite.

É como um relacionamento longo que chega àquele momento em que um dos parceiros começa a questionar: "Será que ainda vale a pena?"

A diferença é que, nesse caso, o parceiro que está questionando é o mesmo que insistiu no relacionamento desde o início.

Uma Reflexão Final (ou Seria Inicial?)

Talvez a verdadeira lição em tudo isso seja sobre a natureza do poder e como ele se disfarça de instituições, regras e valores universais.

A ONU nunca foi realmente sobre paz mundial - foi sobre estabelecer e manter uma ordem mundial específica, favorável a interesses específicos.

É como aquelas regras de etiqueta à mesa: não foram criadas para tornar a refeição mais agradável para todos, mas para distinguir quem "sabia se comportar" de quem não sabia.

A questão agora é: se esse sistema está realmente se desfazendo, o que virá depois?

E mais importante: quem vai escrever as regras do próximo jogo?

Um abraço, Eumismo

P.S.: Se esta reflexão sobre poder, instituições e hipocrisia internacional ressoou com você, compartilhe suas próprias percepções. Como você vê o papel das organizações internacionais em um mundo onde até seus criadores parecem estar desistindo delas? Será que ainda faz sentido acreditar em uma "ordem internacional baseada em regras" quando as regras parecem mudar conforme a conveniência dos poderosos?