A Face Oculta do Feminismo

Da Ficção à Realidade

Você já percebeu como algumas ficções parecem prever o futuro? 

Em 1818, uma jovem chamada Mary Shelley escreveu uma história sobre um cientista obcecado em superar a natureza humana. 

Para quem não sabe, estou falando de Frankenstein - mas não do monstro verde que você conhece dos filmes. Esta história tem uma conexão surpreendente com um movimento que hoje influencia nossas escolas, nossa cultura e até mesmo a forma como criamos nossos filhos.

Victor Frankenstein nasceu em uma família privilegiada de Genebra. Filho de Alphonse Frankenstein, um respeitado político, e Caroline Beaufort, cresceu em um ambiente de amor e dedicação. Sua mãe havia sido resgatada da pobreza por seu pai, e esse ato de nobreza marcou profundamente a família. 

Elizabeth Lavenza, uma órfã italiana, foi adotada para ser sua companheira, e os dois cresceram juntos, destinados ao casamento.

Desde jovem, Victor demonstrou uma curiosidade insaciável pela ciência, particularmente pela alquimia e seus segredos sobre a vida e a morte. 

Quando partiu para a Universidade de Ingolstadt, deixou para trás não apenas sua família, mas também seu melhor amigo, Henry Clerval, que acabaria seguindo seus passos mais tarde.

Na universidade, Victor se viu consumido pela obsessão de criar vida artificialmente. 

Usando a eletricidade - a grande inovação tecnológica da época - ele coletou partes de cadáveres humanos e de animais, trabalhando incansavelmente em seu laboratório. Isolou-se completamente, negligenciando sua saúde e ignorando as cartas de seus entes queridos.

Quando finalmente conseguiu dar vida à sua criação, o horror do que havia feito o dominou. 

O ser que criou, embora anatomicamente perfeito, tinha uma aparência terrível que o fez fugir assustado. O monstro, abandonado e sem nome, foi deixado para descobrir o mundo sozinho.

Aqui começa uma das partes mais fascinantes da história. 

O monstro, contrariando todos os estereótipos, era inicialmente gentil e pacífico. Vegetariano, tentava ajudar secretamente os humanos que encontrava. No entanto, sua aparência provocava medo e repulsa, resultando em agressões constantes.

Encontrou refúgio próximo a uma família humilde que vivia em uma pequena casa no campo. 

Ali, escondido em um abrigo anexo, passou meses observando a vida familiar dos De Lacey. 

O patriarca era um homem cego e bondoso. Seu filho, Felix, era um jovem idealista que havia se apaixonado por Safie, uma jovem árabe. Agatha, a filha, cuidava da casa com dedicação. 

Através desta família, o monstro aprendeu não apenas a língua, mas também sobre emoções, relacionamentos e cultura.

Os livros que o monstro conheceu por meio dos estudos de língua da jovem árabe são particularmente significativos: 

"Vidas Paralelas" de Plutarco, que questiona estruturas sociais; 

"O Paraíso Perdido" de Milton, sobre a rebelião contra Deus; 

"Os Sofrimentos do Jovem Werther" de Goethe, tratando de paixões destrutivas; e 

"Ruínas dos Impérios" de Volney, uma crítica às instituições tradicionais. 

Cada obra contribuiu para moldar sua visão de mundo e sua crescente revolta contra sua condição.

Depois de meses de aprendizado, o monstro desenvolveu um plano para se aproximar da família: decidiu abordar primeiro o patriarca cego, esperando que sua condição o impedisse de julgar sua aparência. 

O plano inicialmente funcionou - o velho De Lacey o recebeu com bondade. No entanto, quando Felix retornou e viu a criatura, atacou-a violentamente, destruindo qualquer esperança de aceitação.

Foi neste momento que o monstro se transformou verdadeiramente. 

A rejeição final o levou a descobrir sua origem através de anotações que carregava consigo desde sua criação. Ao encontrar o endereço de Victor Frankenstein, iniciou sua vingança sistemática.

Primeiro, matou William, o irmão mais novo de Victor. Henry Clerval, o melhor amigo de Victor, foi o próximo. 

Por fim, na noite de núpcias, assassinou Elizabeth, a esposa de Victor. A tragédia culminou com a morte do pai de Victor, destruído pela dor.

Victor, devastado pela perda de todos que amava, inicialmente havia concordado em criar uma companheira para o monstro, que prometia se exilar com ela longe da civilização. No entanto, temendo que uma nova criatura pudesse ser ainda mais destrutiva e que juntos pudessem gerar uma raça de monstros, destruiu o segundo ser antes de completá-lo. 

Esta decisão selou seu destino.

A perseguição final entre criador e criatura os leva ao Ártico, onde Victor morre em um navio de expedição. 

O monstro, encontrando o corpo de seu criador, lamenta sua existência e parte em direção ao norte, prometendo construir sua própria pira funerária.

Esta história extraordinária foi escrita por Mary Shelley, filha de Mary Wollstonecraft, considerada a primeira feminista do mundo. 

Não é coincidência que o tema central do livro seja a tentativa de superar a natureza humana - um eco que ressoa através das gerações no movimento feminista.

Mary Wollstonecraft, autora de "Reivindicações pelos Direitos das Mulheres", acreditava que as diferenças entre homens e mulheres eram puramente culturais. Sua vida pessoal foi marcada por tragédias: um pai violento, relacionamentos fracassados, um amante que a abandonou grávida. 

Acabou se envolvendo com William Godwin, um anarquista moral contrário ao casamento, com quem teve Mary Shelley - morrendo no parto.

Mary Shelley carregou este legado em Frankenstein. 

O livro reflete sua própria história: a ausência da mãe que desprezava a maternidade, relacionamentos conturbados, a perda de filhos. Assim como o monstro de sua história, o movimento feminista continuaria tentando superar a natureza humana através das gerações.

A primeira onda do feminismo, iniciada oficialmente em 1848, já apresentava esta característica. 

Enquanto as mulheres comuns na Conferência de Seneca Falls votavam contra o direito ao voto (entendendo que este vinha com obrigações como o serviço militar), as sufragistas queriam privilégios sem responsabilidades. 

A família Rockefeller percebeu duas oportunidades: mulheres votantes significavam mais contribuintes e, mais importante, mulheres no mercado de trabalho significavam crianças vulneráveis à substituição de valores - tanto que os Rockefeller foram fundamentais na reformulação do sistema educacional americano, posteriormente copiado no Brasil.

Na Rússia, Alexandra Kollontai levou essas ideias ao extremo, defendendo que os filhos não pertenciam aos pais, mas ao Estado. 

Suas políticas de facilitação do divórcio e incentivo à libertinagem sexual foram tão destrutivas que até mesmo Stalin as revogou, percebendo que estavam destruindo o tecido social.

A segunda onda trouxe monstros ainda maiores. 

Simone de Beauvoir declarou que "não se nasce mulher, torna-se" - uma tentativa direta de negar a natureza biológica. Considerava a maternidade uma forma de escravidão. 

Betty Friedan usou uma abordagem mais sutil nos EUA, mas igualmente destrutiva, focando no combate à "mística feminina".

Valerie Solanas levou o movimento ao extremo com seu manifesto SCUM (Sociedade para Cortar Homens), defendendo uma sociedade apenas de mulheres onde a reprodução aconteceria em laboratório. 

Essa mulher foi responsável pela tentativa de assassinato do artista Andy Warhol, lembra dele?

Shulamith Firestone foi além, defendendo que não deveria haver distinção entre adultos e crianças, propondo "households" onde todos poderiam se envolver sexualmente.

A terceira onda completou a transformação. 

Donna Haraway, em seu "Manifesto Ciborgue", propõe usar a tecnologia para superar todas as dicotomias naturais: mente/corpo, natureza/cultura, macho/fêmea. 

Judith Butler leva esse pensamento ao extremo com a ideologia de gênero, atacando conceitos básicos como homem, mulher, mãe, pai.

Hoje, vemos os resultados dessa busca incessante por superar a natureza humana. 

Como o monstro de Frankenstein, cada nova "libertação" traz consequências destrutivas. A diferença é que os monstros atuais são ideológicos: eles não destroem corpos, mas mentes e almas.

Nas escolas, nas mídias, na cultura popular, vemos a influência dessas ideias. Quando sua filha chega em casa com o cabelo azul, quando seu filho questiona sua própria identidade, quando valores familiares são ridicularizados - são todos sinais de que o monstro continua vivo e mais forte que nunca.

No livro de Mary Shelley, não fica claro se o monstro realmente morre no final. 

Da mesma forma, a busca pela superação da natureza humana continua, transformando-se e adaptando-se, mas sempre mantendo seu objetivo original: destruir os limites naturais que nos definem como seres humanos.

A verdadeira questão é: quanto dessa busca pela "superação da natureza" realmente nos liberta? 

E quanto dela apenas cria novos monstros que, como na história de Shelley, acabam se voltando contra a própria humanidade que alegam querer libertar?